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O que as adaptações deveriam ser

  O motivo de eu resolver escrever esse texto. (Descrição da imagem: cartaz da série Percy Jackson and the Olympians, da Disney+. Percy,  menino branco, adolescente, está com um joelho no chão, de perfil, segurando uma espada dourada que brilha levemente. Atrás dele, as ondas se formam num arco. A foto está levemente inclinada.) Ano passado, na bienal do livro, resolvi ir na palestra com Ana Paula Maia porque é uma autora que eu gosto muito e estava com vontade de vê-la autografando meu "Enterre Seus Mortos". Além disso, havia algumas pessoas interessantes na mesma palestra, entre elas, Rodrigo Teixeira, produtor cinematográfico. O tema da palestra era sobre adaptações: Rodrigo Teixeira tinha acabado de produzir o filme de "Enterre Seus Mortos", que será lançado ainda esse ano, com Selton Mello no papel principal. Dentre tantas conversas, Ana Paula Maia comentou que houveram sim mudanças na adaptação, um personagem que morre no filme não morre no livro, personagem i
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2023 Foi Um Naufrágio

Vazou eu. (Descrição: barco afundando, apenas metade da popa para fora da água. Um homem está sentado, agarrado no barco.) Falei aqui  sobre como foi meu 2022 e no texto há bastante empolgação sobre como foi um ano bom. Em retrospecto, ano passado eu terminei três romances e fiquei com a ideia de que tentaria fazer o mesmo número esse ano. Ah, era um jovem empolgado. Pois falhei miseravelmente. Esse foi um ano mais complicado na minha escrita. Para escrever esse texto, comecei a refletir onde falhei. E aí eu voltei no texto do ano passado e lembrei da minha promessa de que mexeria no meu romance de horror em janeiro, que eu tinha 30k escrito mas que precisava mexer de novo, etc. E no triatlo que é a escrita de um romance, dessa vez não consegui nadar de braçada e afundei na água. E de novo. E de novo. E de novo. Várias vezes ao longo do ano eu não consegui manter o ritmo de escrita que me fez terminar CA, um romance de 70k, em 2 meses, como fiz no ano passado, por exemplo. Até tive cer

A Metamorfose de Kafka metamorfoseada

"Certo dia, ao acordar de sonhos agitados, ainda na cama, Gregor Samsa descobriu que tinha se transformado num inseto monstruoso." Com essa frase, traduzido por Caio Pereira em um box que comprei há muitos anos, Kafka inicia A Metamorfose. Franz Kafka é um dos meus autores favoritos e um dos que mais me inspiram. A Metamorfose pode não ser o meu favorito dele (O Processo me impactou mais), mas A Metamorfose é o seu livro mais famoso. Não à toa quando se pensa em Kafka, hoje, a primeira coisa que se lembra é de Gregor Samsa metamorfoseado em um inseto. Geralmente uma barata, mesmo que o texto nunca deixe explícito qual exatamente é o inseto. Essa semana, sem querer, acabei lendo e assistindo duas obras que se relacionam com a história de Gregor Samsa. Ambas as histórias, bem diferentes entre si, mostram caminhos diferentes ao que Kafka enveredou quando escreveu a obra. Outros autores foram influenciados por ele e escreveram suas próprias versões. Histórias que me fizeram refle

Ler para cumprir tabela

 Já tem alguns meses que eu vejo um movimento utilitário dentro da literatura nas redes sociais. Quando falo utilitário, quero dizer de gente que busca ler o máximo de coisas possíveis no menor tempo possível porque o importante é a produtividade, é cumprir a leitura daquele livro ou saga logo para poder postar que leu ou comentar com alguém as coisas mais óbvias daquele livro. Acompanho algumas bolhas nas redes, muitas delas relacionadas a "conteúdo" (eu odeio esse termo, mas aqui funciona como uma maravilha) e percebo que esse movimento é ainda mais forte dentro do meio literário. A gente tem a Netflix lançando todas as suas séries de uma vez, só para que as pessoas participem das conversas no mesmo dia, e se você assistir devagar, está arriscado a tomar spoiler (coisa que por si só já sou contra, mas isso é assunto para outro texto) e não participar das conversas, e ainda assim, no meio literário, é onde vejo esse movimento de utilitarismo muito mais forte. Por quê? Eu não

Dois Caminhos Diferentes Para a Fantasia Sombria

 Não é difícil entender o motivo do Grimdark (ou fantasia sombria) ter se tornado tão desinteressante nos últimos anos. Surgindo inicialmente como uma resposta para a fantasia épica à la Senhor dos Anéis, a fantasia sombria veio para acabar com a dualidade do bem/mal, certo/errado, criando apenas áreas cinzentas em mundos fantásticos cada vez mais... sombrios. E isso é bom. Quer dizer, a ideia de gerar mundo mais sombrios e perigosos para seus personagens que agora não eram heróis tão definidos, mas tendiam a ser heróis por ocasião. Ou às vezes nem isso. Não demorou muito para a fantasia sombria descambar para o que há de pior na fantasia. Existe uma piadinha ácida que diz que para uma fantasia medieval existir tem que ter dragões e estupros. Basicamente as histórias pararam de ter personagens cinzentos sobrevivendo em mundos complicados para ser apenas desculpa para violência exacerbada e, ouso dizer, pervertida e perversa, por parte de certos autores. Eu não quero entrar na discussão

2022 foi uma corrida e eu alcancei a linha de chegada

 Como eu já havia dito aqui , não sou um cara que corre muito. Seja na vida real, seja na escrita. Costumo produzir minhas histórias bem devagar e fazia anos que eu não terminava algo. Em 2022, as coisas mudaram. Consegui finalizar três romances inteiros, iniciei outros, sem contar alguns contos e revisar uma noveleta. Que grande mudança! Mas como cheguei a isso? O que houve de diferente nesse ano? A primeira coisa que eu tenho que deixar claro é que não é só mérito meu e esse tipo de coisa ia acontecer, uma hora ou outra. O primeiro romance que eu finalizei (vamos chamar de CdSMA) tem esqueleto desde 2013, mas comecei a escrever, de fato, no final de 2020. Não foi uma escrita ininterrupta, mas eu sempre voltava e produzia alguma coisa ao longo dos dois anos, até chegar a uma versão "aceitável" para mim (entre aspas porque ainda acho que posso mexer em uma coisa aqui ou outra, apesar de ser uma versão aproximada do final). CdSMA é um romance de piratas que mistura drama, roma

Seu Protagonista Pode Ser Desagradável — E Isso É Bom

  Não é o protagonista, mas ilustra bem o que quero dizer (Descrição da imagem: Stannis Baratheon, da série Game of Thrones, um homem de meia idade, um pouco calvo, com cabelo e barba cinzentas. Usa uma armadura com um símbolo de um alce dentro de um coração em chamas no peito. Tem o olhar sério e, desfocado lá trás, alguns soldados portam armas.) É sempre gostoso pegar um livro novo, sentir o seu cheirinho e penetrar naquele universo com personagens agradáveis. Gente com quem você vai se importar. Que vai te inspirar ou vai te fazer, se não querer ser aquela pessoa, tê-la como amiga. É muito comum, na literatura, o pensamento de que seu protagonista precisa ser uma pessoa agradável porque isso gera empatia. Se as pessoas se importam com seu protagonista, é muito mais fácil para ela continuar aquela leitura até o fim e/ou se importar com o caminho que está sendo percorrido. Quanto mais o seu leitor se importar com as pessoas que estão no centro daquela história, melhor algumas cenas te