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2022 foi uma corrida e eu alcancei a linha de chegada

 Como eu já havia dito aqui, não sou um cara que corre muito. Seja na vida real, seja na escrita. Costumo produzir minhas histórias bem devagar e fazia anos que eu não terminava algo. Em 2022, as coisas mudaram. Consegui finalizar três romances inteiros, iniciei outros, sem contar alguns contos e revisar uma noveleta. Que grande mudança!

Mas como cheguei a isso? O que houve de diferente nesse ano?

A primeira coisa que eu tenho que deixar claro é que não é só mérito meu e esse tipo de coisa ia acontecer, uma hora ou outra. O primeiro romance que eu finalizei (vamos chamar de CdSMA) tem esqueleto desde 2013, mas comecei a escrever, de fato, no final de 2020. Não foi uma escrita ininterrupta, mas eu sempre voltava e produzia alguma coisa ao longo dos dois anos, até chegar a uma versão "aceitável" para mim (entre aspas porque ainda acho que posso mexer em uma coisa aqui ou outra, apesar de ser uma versão aproximada do final).

CdSMA é um romance de piratas que mistura drama, romance e ação. É o meu queridinho.
(Descrição: em meio à rochedos, um navio pirata navega num mar enevoado. A foto tem um tom sombrio num filtro azul-esverdeado.)

O outro romance, CdA, escrevo desde 2016, produzindo praticamente um capítulo por ano. Os dois culminaram em acabar esse ano porque já estava na hora. Escreva (muito) devagar muitas coisas e uma hora todas elas terminam ao mesmo tempo. Acontece.

CdA foi o mais difícil de escrever porque ele é um pesadelo quase que de maneira literal. É o que eu acredito ter maior qualidade.
(Descrição: o espelho retrovisor de um carro visto através do vidro fechado cheio de gotas de chuva. Quase não é possível ver o cenário do lado de fora. O céu está fechado por nuvens carregadas.)

Eu digo que meu mérito mesmo está no terceiro romance, que escrevi ali para o começo do segundo semestre. CA (vamos chamar assim) tem um plot que me persegue desde 2021 e deveria ser um conto curto para um edital que nunca nem sentei para escrever. Depois virou uma novela na minha cabeça, porque não achei que teria uma história muito longa. Quando ele passou de 2 para 4 protagonistas, eu decidi que ia ser um romance e sentei para escrever. CA é um romance alucinante, completamente caótico e de escrita totalmente intuitiva. Nasceu num rompante meu e consegui finalizá-lo, na primeira versão, com 74k de palavras, em dois meses. Só para ter uma ideia, o CdSMA tem 60k de palavras, mais ou menos, e o CdA tem 30k.

CA me parece ser o mais comercial. Uma história alucinante, bromance, personagens engraçados e sarcásticos, boas interações e plot twists. Muitos plot twists.
(Descrição: a foto vem da perspectiva de uma calçada, mostrando prédios com névoas no fundo, carros transitando na rua e postes acesos na calçada.)

Se eu estou em uma maratona eterna e em ritmo lento na maioria das vezes, em CA estourei, puxei fôlego e inflei meus pulmões. Foi uma corrida.

Na primeira reescrita da história, para acertar alguns furos da história e organizar parte do caos que ela é (mas não muito, ou ela perde a essência), usei o nanowrimo. Dessa vez levei um mês para mudar capítulos inteiros ou deixá-los idênticos com a versão anterior. Dessa vez, CA tem pouco mais de 90k. Ele ainda deve passar por mais uma reescrita e aí sim espero que esteja pronto.

Uma última coisa que preciso falar sobre esses livros ainda é que, claro, meu método para escrever mudou. Percebi que construir uma planilha com quantidade de palavras que faço por dia me ajuda e muito a continuar escrevendo todos os dias em uma quantidade considerável. 

Quando eu terminei o segundo romance, o CdA, eu coloquei uma meta anual de que terminaria 5 romances esse ano. Ideia meio louca, eu sei, mas do jeito que as coisas estavam fluindo, achei que seria capaz. Eu tive muitas ideias (como meu projeto dos 3 carnavais, que pretendo falar em breve), iniciei alguns outros romances, mas nada fluiu muito. Fiz 3 e é bom número.

Para o ano que vem, vou tentar 3 outra vez. Eu vi que é possível, e boa parte das coisas que eu quero produzir, já tenho esqueletos bem desenvolvidos (como dois do projeto 3 carnavais) já iniciei e ando gostando do que estou fazendo (nesse caso, falei bem pouco sobre aqui) ou esboços bem extensos (vou iniciar janeiro com um romance de horror que fiz 30k de palavras, mas não gostei do caminho e quero me enveredar por outros) e mexer em histórias que iniciei faz muito tempo (uma bem antiga, que não finalizei e foge muito do meu estilo, outra que escrevi por completo em 2015, mas relendo atualmente eu não gostei do que fiz, apesar de gostar da história). Ou talvez eu faça como fiz com CA, jogue todas as ideias em andamento/planejadas para o alto e inicie algo totalmente novo que ferve na panela de pressão que é minha cabeça.

Agora fugindo um pouco dos romances, apesar de ter sido um ano que escrevi poucos contos (e participei de poucos editais, por vontade própria), eu tive o prazer de fazer parte de uma edição luxuosa da Mafaverna, junção das revistas Mafagafo e A Taverna. Meu conto Nas Montanhas, Até Vila do Vento foi traduzido para o inglês (chique!) e recebeu uma ilustração lindíssima! É um recorte de um universo maior que tenho planejado para outra história e fico muito feliz com o resultado e até onde o conto foi.

Enfim, num balanço geral, 2022 foi um bom ano. Apesar de ser um ano fodido (política, futebol, o país inteiro derretendo etc), consegui produzir bastante e gostei do que fiz. Consegui lançar alguma coisa que me deu muito orgulho. Para o ano que vem, além dos 3 romances que pretendo escrever, também, pretendo começar a me planejar para lançar qualquer uma das histórias prontas, ou buscar lugares que posso publicá-las. Talvez esteja chegando a hora de colocá-los no mundo.

2022 foi uma maratona extensa, cansativa e quase não tive fôlego para terminá-lo, de maneira geral. Mas ainda bem que estou aqui, na linha chegada, me preparando para correr de novo.

E de novo e de novo.

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